Desassociação:
CORPO.
TEMPO.
PESSOAS.

Conexão:
ANIMAIS.
CRIANÇAS.

E claro, o mar.

Daquela pessoa que você conhecia, sobrou muito pouco.

Sobrou tão pouco, que olhar no espelho,

Ouvir meus pensamentos, minhas vozes, 

É como observar um estranho. 

Um novo alguém que se apossou, não sei quando, da carcaça magra que eu costumava ser.

E eu e ele andamos quase juntos.

Ele à minha frente, como Capitu fazia.

E eu um passo atrás, escondido. 

Como uma sombra, que desaparece.

Que depende de ângulos e luz para existir.

Vez e outra, sou envolvido num abraço morno - 

Num abraço morno, de braços que se deixam pesar sobre meus ombros.

Questionando minha existência. 

E minha capacidade de resiliência. 

Abraço de volta, 

Mortificado ao pensamento de ter meu tronco esmagado

E a vida levada embora, 

Busco salvação naquele que me condena.

Minha Unsent ( so far )

Dear Luka... Vou sempre sentir um pouco de falta de ti. De nossas conversas e do teu bom-humor. E sou eternamente grato por tudo o que você me ensinou... Por sua cultura pop, suas lições sobre cinema e música. Embora na maioria das vezes eu tenha me sentido feliz e à vontade com você, em outras tantas vezes senti-me desconfortável - como alguém que chega na metade do filme. Havia muita história da qual eu não fazia parte e também havia uma outra história - a minha própria - que sentia que você não estava disposto a ajudar a escrever... Pois veja bem... Eu era muito jovem, e embora inteligente - não tinha idéia de como começar uma vida. Rezo para que esteja bem. Rezo para que teus medos não te afoguem, para que teus risos venham fáceis, e para que suas mentiras continuem te confortando...

Dear Yves... Depois de tanto tempo, e de tantos outros, você permanece. Sem muitas explicações, sei que sempre te amei e sempre vou te amar. Mesmo sem te ver por 9 anos. Mesmo se não te ver pelos próximos 9 anos. Poderíamos ter tentado mais... Mas nenhum de nós estava realmente preparado. Provavelmente nunca estaríamos.
Mas consigo enxergar sua beleza. Aquela mesma beleza que enxerguei nas tuas fotos de quando você era criança... Hoje talvez te enxergue mais que antes. E talvez, ainda tenha a esperança de você me enxergar para além das partes de mim que você disse ser doente e não aceitar.

Dear Marco... mesmo apaixonado eu teria entendido melhor... caso você falasse um pouco mais, abrisse um pouco mais. Mas acredito que, apesar da tatuagem póstuma ( que sempre me pego pensando se cubro ou não ), apesar dos barbitúricos e da necessidade de te excluir da minha vida totalmente - apesar de tudo isso - até que não fiz feio.
Sofri. Sofri sentado, chorando na banheira, lá em Montevideo - o lugar que te chamei pra ir, onde pretendia te dar um anel de compromisso - e você não foi... Sofri com a comidinha que preparei e comi sozinho, sentado no chão da cozinha... Sofri com o mesmo par de alianças nas mãos, no aeroporto - no dia em que você ia embora do país e não quis se despedir de mim.
Entendo um pouco melhor hoje.
Entendo suas dúvidas de ir ou ficar. Os medos. E o que você realmente precisava fazer, por você mesmo.
É uma pena eu ter me envolvido mais do que deveria. E não ter percebido todos os teus sinais, todos os teus "nãos".
Finalmente você foi embora. E eu fiquei. Fiquei com a lembrança do que nunca tive.
De qualquer maneira eu suponho que devo agradecer... Pois foi com você que percebi que posso me apaixonar novamente;
que posso me desesperar novamente;
que posso me enganar novamente... Sim, suponho que devo agradecer...

Dear Giu... Tanto de mim eu vi em você. E isso meio que me assustou - é como se houvesse um pequeno manual de como lidar contigo... E eu sei que lidar comigo nunca foi muito fácil...
Um compromisso não esperado. Era eu ou o não dividir? Era eu ou apenas o estar comprometido ?
Vi que você sonhou e eu não. Quando um dia se referiu a sonhos que tivemos e planos que fizemos, meu querido, meu menino... recordo-me dos teus planos e sonhos somente... Pois eu... mal sabia onde estava e como havia chegado ali.
Água tépida. Sinto falta. De algumas conversas, do teu cheiro, da risada de louco que me assustava e me divertia. De te olhar e ver como você é bonito e não se dá conta.
Mas acabou quando deveria acabar. E ambos sabemos disso.

Dear Fear... sua dor te distancia. E minha vida me distancia. Vez e outra me vejo tentando perdoar teus feiosos óculos e pulseiras. Vez e outra me vejo pensando que até poderíamos ser... Mas, como você me disse certa vez - ambos sabemos que isso vai dar em nada. Então mais que depressa me despeço de lembranças e bem-querer...

Antes os momentos de desespero eram mais frequentes,
Quase que como corriqueiros.
Hoje há o pavor do novo, do desconhecido,
Um pavor que me paralisa, que quase me anula.
Pego-me pensando em um dia no qual disse para a mãe :
"Mãe - não tenho medo de nada! Absolutamente nada!"
E hoje...
Bem, hoje é outra estória.
Como, em 5 anos, posso me tornar tão covarde?
Como, em 5 anos, envelheço mais que 20?
Para onde foi a coragem?
Apanhei tanto que me encolho quando aparece uma sombra?
É isso?
Não consigo entender o quanto me reduzi,
Nem o porque me reduzi...
Porque me tornei um rabisco,
Um rascunho mal-feito do que um dia fui.
Se antes fui embora para provar de curiosidades,
Para fugir do descaso,
Hoje vou embora para encontrar aquele que costumava ser.
Não aceito conviver com o que restou de mim.
Quero oferecer para eu mesmo o que eu sei que nasci para ser.

Paulo II

O meu grande amor me foi tirado. 

Mais uma vez.

E, desta vez, ao invés de entregar-me a loucura, 

De entregar-me ao desespero, 

Tento entender e ter uma visão mais ampla...

Amo este menino desde que soube que ele viria ao mundo.

Amo cada parte dele, cada riso, cada olhar, e até mesmo seus humores.

Amo como nunca imaginei poder amar algo ou alguém.

Eu entendo o que o olhar dele diz.

Eu entendo o que ele fala quando silencia.

E tudo o que eu mais gostaria neste mundo é dar o melhor para ele.

Mas esta vida é feita de mistérios,

De caminhos tortuosos,

É uma vida que nos bate na cara, que nos estapeia

E que nos ensina, com dor, e com felicidades também.

Sou grato que meu menino está relativamente bem, 

Embora não comigo.

Sou grato por aqueles que o amam, 

Que o alimentam, 

Que o colocam para dormir.

Rezo para que ele cresça saudável e livre do mau,

Rezo para que nas lembranças dele permaneçam meus abraços,

Permaneçam nossos passeios,

Permaneçam todas as vezes que eu lhe disse que era o garoto mais lindo

E mais amado do mundo.

Espero que um dia o mundo, em suas voltas, o traga de volta pra mim.

Que eu esteja mais preparado,

Que não nos esqueçamos.

Vou cuidar do que sobrou de mim para um dia cuidar melhor de ti.

Eu x Eu + Você

Na realidade, eu não sei o que fazer com o que sinto por ti.
Porque te quero e já não sei mais o que este querer me traz.
Porque vou embora, porque nunca permaneço.
Porque minha ausência nos causará dor.
Meu instinto é sabotar o que temos, e,
Me seguro de fazê-lo a cada hora.
Teu sorriso e teu olhar me paralisam.
Fazem-me desistir de atirar no meu pé.
E meu instinto perde para o seu poder sobre mim.
Sim, você exerce algum poder sobre mim.
Tenho plena certeza, absoluta certeza
Que dentro de algum tempo,
Sozinho em algum canto do mundo,
Pegarei-me a pensar em ti e em como sinto tua falta.
Perdoe-me por cada tentativa de causar danos...
O alvo sou eu, e não você.

Your eyes are terrible he once said

And I focused on him

With the focus I gave to my birthday candles

Such deep feelings could not be ignored

Such a mess I was

And so into it I didn’t realize then

No warnings could be given

He felt misunderstood and taken for granted

He felt betrayed and used

On the day he left

He cried all over the ocean

The tears of a decade

Never stopped loving you

Love has changed

But never stopped

It’s been taken to a different level

Your happiness is my happiness

And your laughs, though I cannot listen to them

Are my laughs

Not a lover.

Not and acquaintance.

But part of me, my history.

More than I thought it would be possible

I have you.

Empatia e me conecto contigo.

Acho que nossa maior preciosidade 

É nossa vontade

De conseguirmos nos comunicar

Há vulcões, há desastres,

E há teu riso,

Que hora conforta e, 

Outrora mete medo!

Entendo-te,

E agradeço-te. 

Hoje olhei no espelho e me assustei com o que vi.
Rugas, muitas.
Riso amarelo e gasto.
Entradas, poucos cabelos.
Enfim, um outro ser-humano surgiu ali, e não era eu.
Digo, era eu, mas não o Eu que pensava ainda ser.
Era uma versão gasta, usada, velha.
E parece que todas estas rugas,
E todos os cabelos que caíram,
E o rosto triste -
Parece que surgiram de ontem para hoje.
No entanto sei que assim não foi -
Nestes últimos anos fechei os olhos para meu próprio reflexo.
Auto-punição,
Medos : de falhar, de perder, e também de acertar e
Não saber o que fazer com o que conquistar
Porque é assim : tanta frustração ao redor
Que ter algum sucesso é veladamente proibido.

Acho que eu já me sentia culpado

Antes de aprender a falar

E por isso tenho sido bom

No eterno intuito de me desculpar

Engana-se quem pensa 

Que sou isento de maldade

Que sou pura empatia

Sou um poço de culpas

Muro de punições

Dos pecados alheios.

Suas acusações silenciosas,
Seu olhar perturbador,
Suas palavras escolhidas,
Suas memórias seletivas.
E todo o seu amor,
Todo o seu amor por o que foi,
Por o que eu poderia ter sido e,
Por tudo o que eu represento.

Sufocam-me.

Penso que cheguei num momento em minha vida no qual estou humilde o suficiente para começar o processo de perdão.

De repente, tudo o que tem acontecido parece fazer sentido : todo o caminho trilhado nos últimos meses está diretamente conectado com o fato de um grande peso ser carregado. Eu ainda não o perdoo, no entanto, tenho a vontade de fazê-lo. E, apenas este sentimento, já é algo que me estimula e me eleva a um nível diferente.

Um nível no qual toda aleatoriedade começa a se encaixar e minha existência reconhece por si só seu pequeno tamanho e grande significado - por ser mais um, por estar intimamente conectado ao todo, e claro, também a ti.

Quero começar a desejar-te felicidade, ou pelo menos, não enviar-te energias ruins resultantes de tanta mágoa.

Quanto à você, eu te dou o dom de ser alienado.
Quando tua dor for grande, teus olhos voarão para longe, mesmo com lágrimas.
E teu pensamento ficará disperso, como quando tu eras criança.
Tua boca silenciará, e você ficará quieto - como uma fotografia, como um momento eternizado.
Isso acontecerá vez ou outra, e frequentemente : Dou a ti o teu próprio mundo, teu próprio refúgio, para que te abrigues de toda essa feiúra que te machuca.

De Deus para Paco.

Não sei dizer exatamente quando e nem o que : Mas em algum tempo, algo quebrou-se além da possibilidade de reparos aqui dentro. 

Meu senso de tempo e espaço perderam-se. 

É como se minha história tivesse sido apagada mas algo restou no subconsciente...  e por isso dói-me um não-sei-o-quê e não-sei-onde... 

De dentro de mim saio e vou até a janela dos olhos

E ao olhar, vejo o quanto tudo está desfigurado

E meu único desejo é voltar aqui para dentro

E aguardar até algo fazer sentido novamente.

Gostaria de poder voltar atrás...
Mas não dá.
Não é por não perdoar.
Não é por estar machucado.
É simplesmente porque, quando a dor é muito grande,
Seu instinto te mantém longe do que te causou dor.

Já basta eu estar comigo onde quer que eu vá.

O que é preciso para recomeçar?

No meu caso, um coração partido, duas malas pequenas, uma nova cidade e um novo emprego.

E a vantagem de confundir inércia com esperança.

Paulo

Hoje você veio aqui, na casa de sua avó.
Acordei, fiquei em minha cama, mas ouvindo você falando na sala
Fazendo suas graças, argumentando... Eu sorri.
Se você soubesse o quanto eu te amo
O que eu não faria para que nada neste mundo te machucasse
Teu riso é a coisa mais gostosa de se ouvir neste mundo
Eu te amo tanto que chegar a doer
Na verdade, além de querer que você fosse meu filho,
Gostaria eu, de ter parido você.
Eu sei que dói toda vez que tua mãe não aparece,
Ou toda vez que te desaponta.
Dói em mim.
Dói quando gritam com você,
E quando teu olhar está perdido ...
Quando tudo o que você quer é um pouco de atenção
E te mandam ficar quieto.
Eu amo teu abraço, teu cheiro
Amo brincar com você, embora você me canse muitas vezes
Gostaria de te proteger de tudo e de todos
Mas não tenho este poder
Hoje, brincamos
Você riu
Fizemos um bolo de chocolate
Conversamos
Você disse que me ama
E eu disse que te amo
Quero que você se lembre destes momentos por toda tua vida
Quero que você lembre o quanto é amado
E que pode contar comigo sempre, sempre e sempre
Não posso evitar que você se machuque
Mas posso ajudar sempre a cuidar das feridas que a vida possa vir a lhe causar
Eu te amo mais do que pode caber em mim.

Eu gostaria de dizer que sinto muito pelo o que passaste com o meu pai,

E gostaria de dizer que sinto muito por ter tido que me criar e se virar comigo na ausência dele.

Eu gostaria de dizer que sinto muito pelos teus planos frustrados,

Eu gostaria de dizer que sinto muito por minha existência ter pesado tanto em tuas decisões.

Eu gostaria de dizer que sinto muito pela morte do meu irmão,

Eu gostaria de dizer que sinto muito pelo descaso dos meus outros irmãos.

Eu gostaria de dizer que sinto muito pelas mentiras da minha irmã, e pelas drogas.

Eu gostaria de dizer que sinto muito pelo desafeto do meu irmão e suas escolhas erradas.

Eu gostaria de dizer que sinto muito pelos amores que passaram em tua vida e não ficaram,

Eu gostaria de dizer que sinto muito por sua mãe ter te maltratado.

Eu gostaria de dizer que sinto muito por sua família disfuncional. 

Eu gostaria de dizer que sinto muito por teu avô ter morrido tão cedo.

Eu gostaria de dizer que sinto muito por você estar envelhecendo.

Eu gostaria de dizer que sinto muito...

Eu gostaria realmente de dizer que sinto muito... 

Mas quando paro realmente para pensar no que te faz sofrer 

E quando paro para pensar no porque eu sofro também,

Vejo que não posso dizer "sinto muito" como se algo em tua vida fosse minha responsabilidade.

Meu pai foi uma escolha tua.

Meu nascimento foi uma escolha tua.

Seus planos são seus, e não meus.

E, desde o momento em que escolheste dar me a luz, sabias dos riscos e responsabilidades.

Não matei meu irmão.

Não sou responsável pelas escolhas dos meus outros irmãos.

Não minto pela minha irmã, não coloco drogas em seu caminho.

Não afasto meu irmão, não lhe dou maus exemplos.

Não existia quando teus amores por tua vida passaram.

Não existia quando tu eras menina ainda.

Não tive a sorte de conhecer meu bisavô.

Não posso controlar o tempo...

Tenho feito o possível para compensar algo que não tenho responsabilidade.

Tenho feito mais que minhas forças permitem para compensar tua dor, tuas perdas 

E nesse tempo, nestes 30 anos de tentativas de te agradar,

Tenho perdido meu rumo.

Com a culpa imposta junto com uma esperança pesada,

Com minha fraqueza e falta de egoísmo,

Tenho perdido meu rumo, nestes 30 anos.